Em cartaz: Crítica de Desobediência
- diegocosaco
- 11 de jul. de 2018
- 2 min de leitura
O grande mérito desse filme parece ser o seu início e o tempo que é necessário para o diretor apresentar os personagens e a situação em que se encontram aos espectadores cativando a audiência. Quando Ronit (Rachel Weisz) retorna dos EUA aos seios de sua família na Inglaterra para um funeral após um misterioso telefonema, o público começa a entrar em contato com a trama que desenrola lentamente, como uma degustação para os espectadores. Custa para entendermos o motivo do incômodo que a presença de Ronit causa aquela conservadora família de religiosos ortodoxos judaicos. Aos poucos, tudo começa a ser revelado, culminando no tórrido romance que a protagonista viveu em outros tempos com sua amiga Enit (Rachel McAdams), agora casada com seu primo Dovid (Alessandro Nivola) e que resultou em um grande escândalo que assolou aquela tradicional comunidade no passado. A partir daí, até que a chama dessa paixão reascenda é só uma questão de tempo! E o longa mostra o quão arrebatador é quando um sentimento reprimido explode. O roteiro é bem construído e a protagonista e produtora Raquel Weisz acertou em cheio ao chamar o chileno Sebastián Lelio (ganhador do Oscar de melhor filme estrangeiro em 2018 por Uma Mulher Fantástica) para dirigir a obra pois ele faz um excelente trabalho. Lelio mostrou habilidade ao explorar a trama pelo ponto de vista feminino optando por uma estética sem cores vibrantes, tons frios, fotografia com dias nublados e cinzentos e personagens vestindo majoritariamente preto, seja pela imposição da religião mas também pelo luto que vivem. A estética traduz o estado de espírito dos personagens, oprimidos e infelizes, levando para as telonas uma trama madura e honesta. Muitos planos fechados nos rostos aumentam a sensação de angústia e melancolia e o diretor sabe explorar tais sentimentos eximiamente. A cena de sexo entre Ronit e Enit é um ponto alto pela originalidade, para começar que não há nudez, sendo o momento do orgasmo um grito de liberdade dentro de uma ambientação tão conservadora e fechada. Outra cena marcante é quando Ronit liga o rádio na casa de seu pai, onde não pisava há anos, e está tocando uma música que diz “make me feel like I am home again” ou “faz me sentir como se estivesse em casa novamente”, uma linda metáfora pois tudo acontece minutos antes dela se entregar a Enit mais uma vez . O longa mostra o quão difícil é viver seguindo as tradições quando não se está confortável com elas. É um filme franco, para se ver e ser revisto pois gera muitas reflexões e representa belamente a comunidade GLS feminina, já que não cai em estereótipos, não é clichê e não simplifica as relações humanas, pelo contrário vai fundo na intimidade de cada personagem. A interpretação do trio de atores principais é memorável pois há poucas exaltações, tudo é muito sutil e silencioso e os atores conseguem transmitir toda carga dramática sem apelar para estardalhaços. Altamente recomendado!
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