Em Cartaz: Crítica do filme "Morte no Nilo"
- diegocosaco
- 1 de abr. de 2022
- 2 min de leitura
Por Diego Cosac

O universo envolto em mistério, reunindo glamour, com um clima de instabilidade e certo odor de morte, sempre foi o ponto forte das obras de Agatha Christie – das maiores best sellers da literatura mundial. A fórmula bem sucedida de “O Assassinato no Expresso Oriente”, com adaptação competente para o cinema pelo mesmo diretor Kenneth Branagh, se repete também nesta narrativa reunindo um grupo de interessantes e excêntricas figuras, em um ambiente praticamente confinado, onde ocorre um crime chocante em que cada um é suspeito pois teriam motivos para cometer o crime, que deve ser desvendado até o fim da estória. Mesmo assim, “Morte no Nilo”, que narra o casamento e a lua de mel de uma jovem e bela milionária de nome Linnet Ridgeway (Gal Gadot), com um galanteador cavalheiro de reputação duvidosa Armie Hammer (Simon Doyle), caminha lindamente até acontecer uma série de assassinatos. A película acaba conseguindo frescor e leveza com belas tomadas que saem das aguas do rio Nilo para desvendar a exuberante paisagem daquele ecossistema ao redor. É quase como se estivéssemos vendo a ação do ponto de vista de um crocodilo do Nilo. Uma fotografia acertada, funciona quase como uma pausa na tensão que o roteiro nos impõe, como um alívio para os espectadores no longa metragem que enche os olhos. Com palheta de cores puxando para tons de terracota, marrom e laranja, presentes desde o pôr do sol africano até as paredes de uma esfinge de uma tumba faraônica... a beleza do Egito está bem representada nessa produção. Tudo se completa com a impecável direção de arte, com a grandeza de cenários como do luxuoso hotel e da grandiosa embarcação utilizadas na ficção. Os figurinos saltam os olhos, me chamando atenção o impecável terno branco, de três peças, incrivelmente bem cortado, usado pelo inspetor Poirot (interpretado pelo diretor Kenneth Branagh), o que lhe dar um ar de dândi. O infalível detetive tenta desvendar o mistério a bordo quando a noiva, riquíssima, é morta e todos a bordo de uma nostálgica embarcação no melhor estilo “Mississipi”, tornam-se suspeitos do crime pois tem motivação para tal. “E isto é tão Agatha Christie! E que bom que é...” pensei. Somente a grande escritora conseguia criar aquela atmosfera ora sufocante e ora fascinante em poucos minutos de alternância. O roteiro é bem escrito e bem decupado pela direção, sendo tranquilo acompanhar as muitas reviravoltas que acontecem ao longo do filme. Não é o típico filme de Hollywood picotado, com planos curtos. Nesse filme o tempo é mais lento e, portanto, favorável para a plateia ir ligando os pontos da investigação que acontece ao longo de praticamente toda a narrativa. Gosto como nesse longa-metragem um lado mais sentimental, pessoal e frágil de Poirot é explorado e exposto, deixando-o ao mesmo tempo mais vulnerável e mais forte, e certamente mais humano. Humanizar um personagem já tão estabelecido, com ares quase de herói, não é uma tarefa fácil, mas que acontece nessa produção. Poirot aparece mais humanizado nesse filme e isso é formidável. O final como sempre é grandioso e revelador, é o grande momento em que Poirot conclui suas investigações e expõe toda a verdade com muito brilhantismo. Muita gente se surpreende e fica claro a magnitude do talento de Agatha Christie! Altamente recomendando
Comments