Em cartaz: Crítica de As Herdeiras
- Diego Cosac
- 8 de set. de 2018
- 2 min de leitura
Nesta produção paraguaia não há espaço para homens, que mal aparecem em cena, evidenciando Chela e seu mundo lânguido. Ela vive em um casarão abastado, porém decadente, com sua companheira Chiquita, mostrando uma tendência do cinema latino em mostrar dramas de mulheres de meia idade. Quando Chiquita é presa por fraude, Chela se vê sozinha enfrentando seus fantasmas, se virando como motorista de velhas ricas para descolar alguns trocados vendo sua posição socioeconômica ameaçada. Elas são discretas quanto a sua opção sexual e tentam viver com o resto do que lhes sobraram das heranças de família. Por outro lado, a prisão de Chiquita mostra para Chela novas oportunidades, libertando-a de sua própria vida, ampliando seus horizontes e abrindo um leque de opções para a resignada personagem. O diretor Marcelo Martinessi opta por focar na passiva Chela, mesmo tendo duas personagens fortes como Chiquita e Pituca, justamente por acreditar na força de sua atriz Ana Brun - que interpreta Chela. O excesso de closes mostrando seus olhos arregalados e perdidos demonstra exatamente isso. Chela não fuma mas quando incitada à fumar, aceita. Ela não usa óculos escuros mas quando exigida, passa a usá-los. Afastada de Chiquita, aos poucos, Chela parece ir recuperando alguma autonomia. O filme se apresenta em seu tempo, porém uma narrativa cansada e o ritmo arrastado fazem dessa obra difícil para um grande público acostumado aos cortes rápidos e dinâmicos das produções hollywoodianas. O filme visa traçar um tratado da homossexualidade de mulheres na faixa dos 60 anos e traz um conflito evidente do papel das mulheres na sociedade, de uma elite preocupada em manter certos privilégios, como uma empregada tratada com mucama e os luxuosos móveis à venda da casa em que vive Chela e Chiquita.
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