Em Cartaz: Crítica de Ted Bundy- A Irresistível Face do Mal
- Diego Cosac
- 6 de ago. de 2019
- 5 min de leitura
Falar de Ted Bundy não é desafio algum para mim, pois pesquiso sobre os grandes serial killers há muito tempo, é um assunto que me fascina e que domino. Inclusive acabo de dirigir um filme sobre o assunto! Bundy provavelmente foi o mais midiático assassino em série da criminologia americana e um dos mais brilhantes também pois manipulou o sistema judiciário americano por anos. Estudante de direito, Bundy ouviu do juiz que o julgou que ele ficaria orgulhoso de tê-lo como advogado em seu tribunal, e que era uma pena que Bundy teria seguido por outro caminho. Houveram outros famosos assassinos em série americanos como Charles Manson, John Wayne Gacy e Ed Gein, esse último que virou um ícone em Hollywood por inspirar filmes como Psicose, O Silêncio dos Inocentes e O Massacre da Serra Elétrica. Muito embora muitos desses criminosos tenham ganhado muito destaque, Bundy foi além. Seu julgamento foi o primeiro a ser televisionado para todo os EUA, tendo sido instalado mais de uma centena de câmeras no tribunal, tamanha curiosidade e interesse que suas barbaridades causaram no povo daquela época. Por seu charme e boa aparência, Bundy dividiu opiniões levando muitas garotas e mulheres a se apaixonarem por ele. O que é surpreendente e assustador tendo em vista que ele foi um dos mais sádicos, cruéis e violentos assassinos em série de todos os tempos. Seus crimes, com requintes de crueldade, chocaram o mundo. Como alguém aparentemente tão normal e respeitável, a cima de qualquer suspeita, como um estudante de direito bem nascido e bem vestido, poderia ser um monstro tão doente capaz de cometer atrocidades, como quebrar as mandíbulas de suas vítimas, arrancar seus mamilos e enfiar canos de ferro em suas vaginas as rasgando por dentro? Fatos reais que nem o melhor roteirista de filmes de terror poderia imaginar? Além de homicida, Bundy era estuprador e necrófilo, voltava a cena do crime para fazer sexo com os cadáveres de suas vítimas, tendo confessado matar mais de 30 mulheres (com o adendo que as autoridades acreditavam que ele tinha dado cabo da vida de um número muito superior de pessoas, provavelmente muito mais de cem mulheres). O culto a celebrização de criminosos notórios é um traço importante da cultura estadunidense e nos mostra um adoecimento generalizado naquela sociedade, e no que ela consome, sendo ela a sociedade mais consumista do planeta e o país que detém o recorde de serial killers, traço que se estendeu até para outros países como o Brasil por exemplo: Pedrinho Matador e o Maníaco do Parque são alguns casos que mostram exatamente isso, criminosos frios, extremamente perigosos e violentos que se tornaram celebridades famosas na imprensa e na criminologia nacional, ícones do mal! O filme é prodigioso ao narrar a trajetória criminal de Bundy sem revelar de fato sua culpa, deixando o espectador em dúvida até o final surpreendente. O mérito dessa produção é contar a história de um assassino sem derramar uma gota de sangue cênico (artificial). O filme fica mais para um filme de tribunais e é neste cenário que assistimos o belo Zac Efron como Bundy, no melhor papel de sua carreira até agora, jurando convincentemente sua inocência com a cara mais deslavada do mundo, fazendo você acreditar nele. Tal qual o verdadeiro Bundy! E esse é um traço corriqueiro dos psicopatas, são sedutores, agradadores e te usam sem o menor escrúpulo. Mentem e manipulam com muita facilidade pois não conseguem sentir culpa ou remorso. É um traço comum em todos eles. É uma patologia mental mas também de caráter, de moral. São geralmente muito inteligentes pois sua doença não reside em seu raciocínio e sim no seu senso ético do que é certo ou errado, bom ou ruim. A maioria dos psicopatas não chegam a ser serial killers. Esse é um perfil muito específico de criminoso que atua dentro de um padrão, deixando assinaturas em seus crimes que carregam um modus operandi. A verdade é que todo serial killer é um psicopata mas nem todo psicopata é um serial killer. A maioria deles são o que chamamos de mau caráter e não chegam a cometer crimes tão perversos. A verdade é que existem diversos níveis de psicopatia. O assassino em série é o mais avançado, um expoente! É muito importante ressaltar que o mais consagrado psiquiatra forense do país, Dr. Guido Palomba, tem uma explicação muito convincente para esse tipo de doença. Ele faz uma alusão da psicopatia com a noite e o dia, sendo o dia a total sanidade mental e a noite a loucura, os psicóticos ou esquizofrênicos por exemplo que romperam definitivamente com a realidade ouvindo vozes ou se sentido perseguidos estariam na noite. O psicopata ficaria na aurora, ou na madrugada entre o dia e a noite. Ou seja, ele não é totalmente são, mas também não é totalmente normal. É um meio termo. Porém, portanto, capaz de responder pelos seus atos. Dr. Palomba ressalta em suas entrevistas que esse distúrbio não tem cura. E muito menos recuperação. Portanto um indivíduo com esse diagnóstico deve ser retirado do convívio social para sempre. Pois se reintroduzido na sociedade será reincidente. Voltará a cometer seus crimes e com mais expertise pois aprende com os erros que o levaram para a prisão primeiramente e os aperfeiçoa. Em alguns países como os EUA, serial killers são sentenciados à morte. Ted Bundy morreu na cadeira elétrica, hoje em dia uma injeção letal é a prática mais comum para esse tipo de condenado. Dr. Palomba sugere a criação de uma instituição para esse tipo de criminoso no Brasil, onde eles ficariam pelo resto de suas vidas como um manicômio judiciário, já que a lei brasileira não permite a pena de morte e tem em 30 anos o máximo de tempo que um indivíduo pode permanecer no cárcere. Outros atores brilham nesse filme com destaque para o veterano John Malkovich como o juiz e Haley Joel Osment (famoso por seu papel ainda criança em o Sexto Sentido) muito bem em uma participação especial. A grande missão desse filme, além de trazer a tona um personagem dos mais ricos da história recente dos EUA é nos alertar para o perigo de confiar demais em terceiros. Ninguém leva uma placa escrita “sou psicopata” dependurada no pescoço. Esses malfeitores se misturam a sociedade podendo estar dentro de nossas casas, nos nossos trabalhos, na escola, no clube, no bar que frequentamos pois se disfarçam sob a imagem de serem pessoas de bem. E o pior é que somam aproximadamente 1% da população, ou seja 70 milhões de pessoas tendo em vista que o mundo soma hoje em torno de 7 bilhões de pessoas. É mais que alarmante! Tomem cuidado!!!
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