Em Cartaz: Crítica de A Tabacaria
- Diego Cosac
- 16 de set. de 2019
- 2 min de leitura
O prazer de fumar um bom cubano original, no Rio de Janeiro, me remeteria ao meu amigo Ricardo Amaral, rei da noite carioca ou ao meu mestre, Ruy Guerra, um ícone incontestável do nosso cinema que notoriamente apreciam tais prazeres quase mundanos. Mas os charutos historicamente remetem a um personagem ilustre do século XX, Sigmund Freud! Como não admirar o pai da psicanálise quando se é filho de psicanalista? E foi justamente com a minha mãe que fui assistir A Tabacaria. Um filme envolvente que conta a estória de um jovem rapaz, Franz (Simon Morzé), forçado a ir trabalhar em uma tabacaria em Viena, uma aventura que envolve, amor, sexo, amizade e crescimento pessoal. O protagonista vai além e busca uma identidade própria. E é nessas fases de grandes descobertas que reside o grande encanto da juventude. Na tabacaria, Franz conhece o mundialmente famoso médico da mente Sigmund Freud. Uma amizade surge, provando que diferença de idade é um mero detalhe, que a afinidade nesses casos fala mais alto. O diretor, Nikolaus Leytner, consegue conduzir a narrativa com galhardia, se utilizando do lago que beirava a choupana onde Franz residia inicialmente conduzindo o espectador para o onírico em cenas belíssimas e bem executadas. Nos transporta para o reino do inconsciente. Ali se apresentam os medos, os pesadelos do jovem rapaz. O lago tem grande representatividade pois no início da obra fica claro que é dentro da água que Franz se refugia, como um lugar comum, um casulo. Aconselhado por Freud a anotar seus sonhos sempre em um caderninho, Franz e Freud, constróem uma bela amizade. Tramas paralelas ajudam a compor a obra. A busca do rapaz pelo amor de uma menina de vida fácil apimenta a narrativa. Outro ponto alto é a presença marcante do ator Bruno Ganz (in memoriam) que interpreta Freud. Dos três mais notórios vultos da história austríaca, Mozart, Hitler e Freud, Ganz interpretou dois. Sua performance como Hitler em A Queda - As Últimas Horas de Hitler, é memorável e entrou para história do cinema. De tão visceral e convincente folcloricamente diz se que Ganz não teria interpretado Hitler mas sim teria o incorporado. O curioso é que justamente do nazismo que Freud tem que fugir para Londres em A Tabacaria por ser judeu. Ganz experimentou ambos os lados antes de nos deixar, morreu em fevereiro deste ano sem ver o filme pronto. O tema do nazismo foi muito explorado pelo cinema, fazia algum tempo que não surgia alguma novidade. A novidade no caso é A Tabacaria. Vale ressaltar também a linda fotografia cuja palheta puxa para cores neutras, o trabalho da arte recriando Viena daquela época é eficaz, a belíssima trilha sonora e o desenho de som idem. Mostrando claramente que é o som responsável por dar trimendicionalidade ao cinema, preenchendo vazios ou esvaziando lugares. Altamente recomendado!
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